
Manhã, bem cedinho, estava ainda a dormir quando tocam à campaínha. Era a minha vizinha, se há mulher que me deixa atormentado e nervoso é ela. Oh! Diabo, está um homem a descansar e vem este pecado de mulher atormentar a minha alma e o meu corpo. Hoje, a roupa transparente deixava ver uma lingerie cor-de-rosa.
“Vizinho, tem um peru no quintal!”
Mas que raio faz um peru no meu quintal? Aqui por perto não há aviários! Liguei para a Junta de Freguesia para ver se eles podiam recolher o bicho para o canil, disse-me o presidente que não podia ser, o ambiente entre os canídeos e os gatídeos já é frágil com mais um bicho, todos os outros animais entravam em stress.
Enxotei o bicho e ele voou para cima do telhado da vizinha, ela que se desenrasque, e que não me peça para ir lá a casa, pois um homem não é de ferro.
Fui ao café com os garotos, o peru continuava em cima da casa da vizinha, pedi aos miúdos para não olharem para ele senão ele reconhecia-nos e lá voltavam outra vez os “trabalhos”.
“ Pai, deixe-nos ficar com o bichinho Glu Glu”.
***
A minha mãe ligou-me para o emprego: “Não te quis acordar, deixei um peru no teu quintal para se comer na passagem de ano.”
À noitinha, quando voltei do trabalho, a minha primeira preocupação foi olhar para a casa da vizinha, um hábito que ganhei sempre que chego a casa mas, hoje a minha intenção era ver se ainda lá estava o peru. Não estava.
Fui dar um beijinho de boa noite aos miúdos, já estavam a dormir. Ao sair do quarto, junto aos peluches e ao carro telecomandado da polícia, lá está o peru, embalsamado. Não vou acordá-los, mas amanhã, vou à escola indagar que raio de educação andam a dar aos putos.