Tuesday, December 29, 2015

Relatos da vida do Mixtusinho II na Serra


Noite quente por terras de Canas de Senhorim, noite para amar e conceber um fruto desse amor. A janela está fechada, ao vento não será dado asas para fazer rachas no rebento… será menino na certa para ajudar o pai na lavoura e cultivo das terras e andar à frente da Boneca quando se lavrar a vinha da Póvoa…
Ao chegar à fazenda com o rebanho.
- Deu positivo.
- O que isso significa?
- Estou grávida…
- Muitos Parabéns… e não chores ou melhor chora, podes chorar por alegria.
Enquanto se trata do vivo do campo e das lides pois há um milho para recolher é dada a notícia ao Mixtusinho I:
- Oh Pai! Estavas sempre a dizer que aqui por casa estragava-se sempre comida, agora com um mano já não se estragará comida.
A mãe escolherá o primeiro nome e eu e o campeão escolheremos o segundo. O rapaz inclina-se para Afonso (anda a dar na escola a dinastia Afonsina) e eu o nome do progenitor. Mas se for menina, pergunta se queremos um nome de rebelde ou de princesinha, Matilde se princesinha (ainda na memória os reis e as suas consortes: Matilde, 1ª rainha de Portugal).
 A Tia da mamã, Júlia, deu uma manta em memória da bisavó Encarnação. Esta bisavó tinha dado uma manta à primeira bisneta e pediu à filha se ela não estivesse nos nascimentos dos bisnetos, que a Júlia o fizesse em nome dela.
De bicicleta, a velha pasteleira que me acompanha há muitos anos nas minhas viagens, fomos à primeira consulta pré-natal, senha nº 10.
A enfermeira: - Nome do Pai?
- Claudi… do meu pai ou do pai do bebé?
- Do bebé!
- Mixtu.
Primeira ecografia, porque a aldeia não tem estes meios fomos os 3, ou melhor, os quatro de táxi até à cidade.
Pergunta a mamã: - É jeitosinha?
Jeitosinha? É mais jeitosinho!!! Mas não quero comprometer-me…
- Está agitado, é um reguila! E olhando para o irmão: - Este vai-te dar trabalho.
O Mixtusinho I sorria, aliás esteve sempre a sorrir.
A pastora foi ao centro de saúde e a médica que atendeu perguntou-lhe se ela queria saber o sexo do bebé:
 - Sem certezas, porque está com as pernas fletidas e de lado mas parece-me uma menina!
Será que vem aí uma Eva (nome escolhido pela mamã se fosse menina)? Mas tenho a certeza que a janela estava cerrada.
Pensamos no Serafim. Falta cá o avô paterno para tirar qualquer dúvida pois ele nunca falhou nos seus prognósticos.
Mas, mais tarde noutra ecografia ficamos com a certeza que vinha aí um Mixtusinho II. Diz a licenciada em medicina:
É um acrobata, olhem ele a agarrar com a mão um dos pés, a fazer yoga!
Antes o Reguila, e agora com o Cognome “Acrobata”!
Diz a mamã à saída do Centro de Saúde: - Só sabes fazer meninos!
A barriguinha da mamã já há muito se nota, uma das clientes do mercado onde a mãe vai vender o excedente que se cultiva e o queijo:
 - Ah! Mas você não anda sozinha?!
Os avós maternos deram Mil Reis para o enxoval do nascituro, a juntar a uma roupinha comprada em terras longínquas e por oferendas de outras pessoas, o segundo na hereditariedade do rebanho não passará frio no rigoroso inverno da Serra da Estrela.
No último mês o Terrível acordava por volta das 7h30m, na certa sabe que por essa hora as ovelhas têm de ser ordenhadas para serem levadas ao pasto na Serra.
O primeiro natal é passado na casa da avó paterna que por ser tão formosa deram-lhe como graça, Florinda que lhe dá como primeira prenda uma gaita de beiços… a serra terá mais um pastor, desta vez um pastor músico para dar som aos poemas do pai.

António Vega-Lucha de gigantes

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